quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Anoiteceu em Sampa...

Todo reencontro traz algo de marcante, ou expõe alguma antiga marca. Elas podem ser boas ou ruins, mas dificilmente serão irrelevantes. Suspeito de que nos casos em que são irrelevantes não deveriam mesmo receber o título de reencontro. Por outro lado, um dos pontos mais interessantes disso tudo é que um reencontro não precisa ser com algo que você já tenha encontrado. É um sentimento estranho se reencontrar com o que você nunca viu, mas é absolutamente verdadeiro. No caso deste datilógrafo que vos escreve, isso aconteceu das duas maneiras possíveis - o reencontro com o que eu já tinha vivido e com o que eu ainda não tinha vivido.

Há pouco menos de uma semana me reencontrei com a Paulista (a avenida). Haviam-se passados 9 longos anos desde nosso último contato e, se não fosse pelo brilho no olhar de quem se sente vivo, a sensação era de como se apenas umas poucas horas tivessem se passado. Apenas sete graus me separavam do zero, sem que me pudessem desencorajar. Um brinde à minha estadia selou este primeiro encontro, que seria repetido nos dois dias seguintes.

Três dias transitaram entre o aplacar da saudade e a nova saudade dali em diante. Outros reencontros houveram desde então; um deles, em particular, merece ser mencionado. Uma boa caminhada à amena temperatura do inverno paulistano já durava pouco mais de meia hora, incluindo uma curva à direita que deveria ter sido à esquerda.

Ao menos, nem todo equívoco está condenado a ser erro algum. Como não sou muito curioso dos conhecimentos botânicos, seria impreciso até mesmo supor que espécies de árvores estão espalhadas pelas longas avenidas uspeanas. Tomarei de empréstimo a imagem metafórica dos outonos fílmicos, com suas árvores débeis em folhas secas. Somente os galhos espichados conformando o que seria um túnel natural, recortados pelo poente. E ainda que não possa dizer-lhe o mais belo, está certamente entre os de maior significado até então. É sempre estranho quando você se reencontra com o que nunca havia visto antes...

Um comentário:

  1. Não teve jeito, foi automático, quando me dei conta havia, instantaneamente, sido reportada à bela avenida corrientes de Buenos Aires. Seu tamanho, o clima frio que fazia nos dias por onde a percorri. Mas o que mais me possibilitou reencontrá-la, mesmo que ainda deitada na minha cama, foi o fato de lá também ter me impressionado bastante as árvores em estado senil. Lembro até de um dia ter comentado com uma das minhas chicas que não poderia deixar de colher algumas daquelas lindas folhas caídas ao chão para levar de lembrança (e foram tantas coisas a ver, sentir... que terminei esquecendo de fazê-lo). Pois é, fecho os olhos e sinto como se ainda estivesse lá...
    Parabéns, Arantes. Belo texto!

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