terça-feira, 31 de agosto de 2010

Intro - parte II

Quando retomei a atividade blogueira, depois de algo em torno de 6 anos longe dos escritos internéticos, pensei em construir um espaço em que pudesse registrar minhas andanças e, consequentemente, minhas impressões do cotidiano. Se é verdade que toda criação humana cria, ao mesmo tempo e dialeticamente, o próprio ser humano, devo admitir que tenho notado uma relativa evolução em tornar meu olhar mais acurado e reflexivo sobre o cotidiano. Não quero dizer com isso, que eu não tivesse já tal hábito. Mas agora sinto como se cada uma dessas impressões deixassem uma marca bem mais duradoura - ao menos até que eu consiga um meio de traduzi-las em palavras.

De alguma forma, percebo que isso tem se refletido no conteúdo deste espaço, que já começa a tomar forma e conteúdo. E como todo espaço dinâmico, este também não se limitará a impressões do cotidiano, desabafos viscerais, lamentos saudosistas e clamor pelo fim da indiferença dos seres humanos frente às desumanidades. Como se isso já não fosse suficiente para tomar o pouco tempo de que disponho, urge uma incursão por outros domínios. Espero dar conta de uma proposta tão ampla. Torço para que meus 3 ou 4 leitores gostem...

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Toda notícia depende de quem conta!

O título e o vídeo da postagem são de autoria do jornal Brasil de Fato (www.brasildefato.com.br). Dura 30 segundos e é muito bem pensada, vale a pena assistir ao vídeo! O link para o jornal vai ficar fixo na coluna da esquerda no blog. Recomendo! A leitura e a assinatura!

domingo, 29 de agosto de 2010

Até que o egoísmo nos separe...

Vida de blogueiro exige alguma dedicação mínima para alimentar o espaço virtual, especialmente quando se toma gosto pela coisa. Já não consigo contar o número de assuntos que me circularam pela cabeça como um bom tema a ser tratado, mas que por outros inúmeros motivos não puderam ser compartilhados. Quando algo está se formatando, um novo acontecimento toma a dianteira e grita: eu primeiro! Pois bem, outra vez engolindo as postagens que estavam por vir, relato e reflito sobre algo que aconteceu há uns poucos minutos.

Tenho notado como, em terras paulistanas, os extremos da condição humana estão de tal maneira expostos, que falseamento algum deveria ser capaz de escondê-los. Mesmo aqueles locais mais distantes das periferias são incapazes de fazê-lo. Ainda há pouco saí para cumprir com minha rotina de dono e responsável pelo meu nariz. E pelo meu estômago. Troquei um cumprimento terno com a pequena senhora que responde por minha morada, o que me valeu uma boa dica sobre onde encontrar os pães mais saborosos das redondezas.

Pus-me na direção indicada, no seco e morno final de tarde das ruas do Butantã. Sem que isso significasse ignorar a sugestão que havia recebido, entrei em uma bela padaria, onde algumas pessoas tomavam, com ares de satisfação, um bom café à beira do balcão. Tentador sim, mas mantive meu propósito. Ademais, os preços não eram lá muito sugestivos, dei meia volta, ignorando o cheiro do bom café - e as satisfeitas expressões que me mostravam saciedade não só pelo pão que as alimentava o corpo.

Menos de cinco metros adiante, sob uma marquise já comumente frequentada por toda sorte de errantes desafortunados, avistei um senhor sentado. Não trazia as roupas esfarrapadas daqueles que fazem dali sua cama, levava um óculos no rosto e uma expressão quase indiferente. Ao seu lado, duas mochilas bem arrumadas, ainda que visivelmente surradas. Devo tê-lo observado por uns três a cinco segundos, não mais do que isso, até fixar-me em seus olhos por uma fração.

Segui em frente, lembrando que, horas antes, por pouco não havia tropeçado em um homem de aparência andina, coberto com uma manta barata e pouco eficiente contra o frio. Imaginei se não se tratava de um dos muitos bolivianos, que hora ocupam o posto de grande massa de imigrantes que chegam a São Paulo em busca daquilo que lhes é privado em sua terra natal. Para o alívio temporário dele, o frio deu uma trégua por esses lados.

Antes que eu completasse o pensamento, fui interrompido por um pedido contido, quase cortado pela metade...

- Você tem uma moeda?..

Parei por um segundo, balancei negativamente a cabeça e segui adiante. Estou certo de que a cena não vai sair da minha cabeça por algum tempo. Me transportei para o lado de lá... Durante os três ou cinco segundos que levei para me aproximar, aquele senhor certamente pensou, muito mais do que três ou cinco vezes, em pedir aquela moeda. Talvez tenha desistido quando o fitei os olhos, impossível saber ao certo, mas foi incapaz de me pedir enquanto eu o encarava. Esperou que eu desse as costas, talvez o constrangimento fosse tamanho que não conseguiu articular as palavras.

Talvez não tenha sido nada disso. Impossível saber ao certo. Mas para mim não restou outra alternativa, a não ser pensar sobre algumas questões... Que raio de mundo é esse em que as pessoas se envergonham de se dirigir ao próximo em um momento de necessidade? Que raio de mundo é esse em que, mesmo não necessitando, as pessoas são levadas a fazer da mentira um meio de sobrevivência? Que raio de mundo é esse, feito por humanos, que se opõe à humanidade com tamanha usurpação da dignidade?

Paro por aqui, enquanto as questões são poucas. Preciso de um bom vinho...

PS: postagem ouvindo Abismo, banda alagoana de trash/death metal, cd de ótima pegada e com relevantes temas como os tratados nessa postagem, Until the selfishness tear us apart!

terça-feira, 24 de agosto de 2010

As aventuras de Arantes na Pensão dos Gatos - Parte 1

Pedirei licença aos que aguardavam uma postagem da já distante visita deste incauto àquela cidade onde, na última semana, a grande mídia brasileira se fartou do sensacionalismo que lhe é característico. Praticamente um reality show a céu aberto - e o mais importante de tudo, sem as crônicas bialescas. Aliás, muito por acaso, lembro que passei algumas vezes em frente ao tal hotel invadido. Mas como havia dito, não me estenderei no tema. Deixarei para continuar depois a postagem "Três vezes Lapa: diálogos de uma noite carioca - Parte 2", que ficou pela metade, salva no rascunho, por conta da urgência desta que inicio agora.

***

À moda lulesca, me sinto obrigado a dizer que nunca antes na história desse país foi tão demorado fazer uma mudança tão simples - vale a hipérbole. Pouco antes de sair de minha passageira hospedagem, lembrei de alguns casos que já pude ouvir, em que algum incauto sai para passar algum tempo curto, a propósito de um curso, trabalho ou turismo qualquer, é recebido por algum anfitrião desavisado e termina por ficar muito mais tempo do que havia prometido. Pois agora faço parte, resguardadas as devidas proporções, desse rol de espertinhos.

Duas semanas depois de minha chegada à terra da garoa (portanto 5 vezes mais tempo do que havia solicitado em minha hospedaria), finalmente consegui encaminhar o que havia me proposto a fazer. Me jogar no imprevisto convívio com um bom número de novos amigos (prefiro esta expressão à comumente usada 'estranhos'). E isso em escala bem maior do que havia imaginado, por conta de minha curta estadia por essas bandas, o que me impediu de barganhar o espaço um pouco mais privativo de um quarto individual, convivendo com algo em torno de duas ou três pessoas.

Diante das opções que me foram postas, fiz aquela opção que me pareceu mais coerente. No longo tempo em que estive bem acomodado em minha hospedaria, saí por vários dias à procura de algo que pudesse cumprir a função de um lar temporário. E não gostei nada do que encontrei. A comparação mais honesta que pude fazer, sem exagero algum, foi com um curral de criação intensiva de gado. Estive em um bom número dessas casas, ora chamadas de repúblicas, ora de pensionatos, onde o valor mercadoria do ser humano causa desconforto a qualquer olhar minimamente criterioso.

Tive o absurdo desprazer de encontrar, em uma dessas "residências", uma garagem dividida (com divisórias de compensado) em dois cubículos de onde só é possível sair na mesma posição em que se entrou. Detalhe importante é que a divisória fora colocada junto ao portão, sem que houvessem tido a mínima decência de levantar uma parede de tijolos para separar o "quarto" da rua. Nos fundos da mesma casa, a área da churrasqueira (também isolada por divisórias de compensado) virou um quarto. A suíte ficava no que seriam as dependências de empregada, não maior do que os cubículos já visitados em tantas casas - mas com a pequena diferença de custar quase o dobro do valor dos demais. E, pela lógica em questão, com toda razão. Em outra das residências, um banheiro servia a algo em torno de 8 pessoas, o que valorizava absurdamente a suíte de luxo. Isso sem falar no artigo mais precioso de todos: paredes de tijolos! Ter uma parede de tijolos é motivo de extrema alegria e, dada a raridade, preços extremos também...

É verdade que estive em alguns que fugiam à regra, mas que eram exatamente isso: exceções! No último dia de buscas, prazo que eu mesmo havia estabelecido, já imaginava que teria de ceder ao absurdo. Visitei mais um apartamento e tive a mesma resposta negativa de que a curta estadia não me autorizava a ingressar naquele espaço. Encontrei um pensionato de um bom senhor, de nome Zarzur, que consistia definitivamente em uma exceção ao que já havia encontrado; mas apesar de bem localizada em relação ao meu principal destino, estava relativamente distante do principal meio de transporte paulistano, o metrô.

Só haviam mais duas visitas e ainda menos esperanças, especialmente porque eu havia perdido o endereço de uma delas. Lembrava parcialmente a localização e, como o desespero já se aproximava, arrisquei uma busca in loco. Depois de algumas voltas, como por um lampejo, me lembrei do número da casa. Mas havia algo errado, não poderia de forma alguma ser aquele o endereço.

Deparei-me com uma grande casa, de muro baixo e a parede de tijolos aparentes, além de um florido, belo e amplo jardim, com algumas das plantas um pouco mais altas que o muro. Havia um grande portão e a área à frente da garagem era suficiente para quatro carros. Um pequeno portão entreaberto, à direita da casa, permitia ver uma parte de um amplo quintal gramado que seguia até os fundos. " - Não pode ser aqui!", disse em voz alta, enquanto atravessava a rua e me vinham à cabeça as imagens dos compartimentos para armazenamento de seres humanos.

Sem pressa e ainda menos esperança, toquei a campanhia. A demora em ser atendido sufocava ainda mais o pouco de esperança que me restava. Algum tempo depois surge uma pequenina senhora, a passos lentos e voz suave, quase inaudível a certa distância. Tomei a iniciativa, como já havia feito em outros lugares...

- Boa tarde, estou procurando uma república que fica por esses lados, a senhora não saberia onde fica, não é?
- É aqui mesmo, foi você que me ligou, não foi?

Posso estar enganado e a discrição da pequenina senhora não me confirmar, mas tenho certeza que arregalei os olhos e demorei algo em torno de 10 segundos para responder - tempo suficiente para que ela se aproximasse e abrisse o portão, me convidando para entrar. Fui apresentado ao local e não tive como não me recordar da imagem da boa avó, com sua enorme casa a receber uma penca de filhos, netos e bisnetos. Tudo era tão cuidadosamente limpo e organizado que não havia qualquer possibilidade de ter outra referência. O quintal gramado era pouco maior do que eu pensava e tinha um grande viveiro, com mais de uma dezena de gatos grandes e gordos.

Fui conduzido ao quarto onde, se aceitasse, dividiria com mais 3 novos amigos. Grande, limpo e organizado, como o resto da casa. Se houvesse caído nas mãos dos armazenadores de seres humanos, certamente haveriam 6, talvez 8 cubículos para estocagem. O banheiro seria desfeito e transformado em outros 3 cubículos, talvez uma suíte de custo exorbitante. Tive uma boa conversa com a pequenina senhora e reservei o espaço, para que pudesse chegar em casa e ter certeza de que não havia sonhado.

No dia seguinte, tive o prazer de descobrir que havia sim encontrado um bom lugar, a um preço justo e bem localizado. O maldito espírito do individualismo ainda me importunava e tive de fazer algumas consultas com amigos para que não caísse em suas garras. Imediatamente fiz o pagamento de minha reserva, para que não pudesse voltar atrás. Desse dia até minha efetiva mudança transcorreram-se outros 4 dias. Havia um bom número de coisas e compras a fazer, que esperavam pela minha decisão de moradia.

Finalmente, às 23 horas e alguns minutos aportei na silenciosa morada. Alguns dos novos amigos terminavam suas atividades de estudo, outros já dormiam. Sentei-me ao computador para entrar em contato com os meus e contar alguma novidade. Precisava da senha para acessar a internet e fiz uma rápida busca pelas redes wireless disponíveis. Foi quando descobri o nome de minha nova morada... Pensão dos Gatos! Poucas horas depois eu dormiria minha primeira noite felina...


No fone de ouvido: A Tribute to Stevie Ray Vaughan - agradecimento especial ao Tio Natan, Ogro-Mor, por me ceder o álbum que embalou esta postagem!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Anoiteceu em Sampa...

Todo reencontro traz algo de marcante, ou expõe alguma antiga marca. Elas podem ser boas ou ruins, mas dificilmente serão irrelevantes. Suspeito de que nos casos em que são irrelevantes não deveriam mesmo receber o título de reencontro. Por outro lado, um dos pontos mais interessantes disso tudo é que um reencontro não precisa ser com algo que você já tenha encontrado. É um sentimento estranho se reencontrar com o que você nunca viu, mas é absolutamente verdadeiro. No caso deste datilógrafo que vos escreve, isso aconteceu das duas maneiras possíveis - o reencontro com o que eu já tinha vivido e com o que eu ainda não tinha vivido.

Há pouco menos de uma semana me reencontrei com a Paulista (a avenida). Haviam-se passados 9 longos anos desde nosso último contato e, se não fosse pelo brilho no olhar de quem se sente vivo, a sensação era de como se apenas umas poucas horas tivessem se passado. Apenas sete graus me separavam do zero, sem que me pudessem desencorajar. Um brinde à minha estadia selou este primeiro encontro, que seria repetido nos dois dias seguintes.

Três dias transitaram entre o aplacar da saudade e a nova saudade dali em diante. Outros reencontros houveram desde então; um deles, em particular, merece ser mencionado. Uma boa caminhada à amena temperatura do inverno paulistano já durava pouco mais de meia hora, incluindo uma curva à direita que deveria ter sido à esquerda.

Ao menos, nem todo equívoco está condenado a ser erro algum. Como não sou muito curioso dos conhecimentos botânicos, seria impreciso até mesmo supor que espécies de árvores estão espalhadas pelas longas avenidas uspeanas. Tomarei de empréstimo a imagem metafórica dos outonos fílmicos, com suas árvores débeis em folhas secas. Somente os galhos espichados conformando o que seria um túnel natural, recortados pelo poente. E ainda que não possa dizer-lhe o mais belo, está certamente entre os de maior significado até então. É sempre estranho quando você se reencontra com o que nunca havia visto antes...

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Novos horizontes...

Enquanto eu não preparo a próxima postagem, deixo de lambuja outra letra do Gessinger que tenho cantarolado à pampa - por sinal, já faz tempo que ela não deixa meus sussurros em paz...

Novos Horizontes
H. Gessinger

Corpos em movimento
Universo em expansão
O apartamento que era tão pequeno
Não acaba mais
Vamos dar um tempo
Não sei quem deu a sugestão
Aquele sentimento que era passageiro
Não acaba mais
Quero explodir as grades
E voar
Não tenho pra onde ir
Mas não quero ficar

Novos horizontes
Se não for isso, o que será?
Quem constrói a ponte
Não conhece o lado de lá
Quero explodir as grades
E voar
Não tenho pra onde ir
Mas não quero ficar
Suspender a queda livre
Libertar
O que não tem fim sempre acaba assim

sábado, 14 de agosto de 2010

Três vezes Lapa: diálogos de uma noite carioca - Parte 1

- Você está sozinho?

A pergunta valeria uma resposta malcriada se fosse em uma situação diferente. O andar para lá e para cá, ora comprando uma cerveja, ora saindo em busca de uma marquise que diminuisse um pouco da chuva que caía sobre a mochila surrada e o moleton estampado com a arte do álbum Black Ice, do ACDC, denunciava a situação insólita sob os arcos da Lapa. Não por falta de pessoas, mas por falta de companhia. Eu não estava mesmo muito empolgado - o relógio ainda marcava 9 da noite e eu esperava um colega que só conhecia por nome e alguns contatos telefônicos, mas que só chegaria por volta das 11 da noite. De modo que dispensei qualquer possibilidade de manter-me sozinho e retribuí o cumprimento, ainda que com alguma reserva...

- Estou esperando um amigo..
- É, eu também, marquei com ele às 10.
- Eu vou esperar um pouco mais, acho que só lá pras 11.
- O que você faz?
- Sou jornalista, e você?
- Administrador, trabalho pra um vereador do PV de Duque de Caxias. Como é seu nome?

Cerca de uma hora depois já havíamos dividido algumas cervejas em lata e conversado um bocado, repetindo o movimento entre as barracas, montadas sob os arcos, para comprar cervejas e as marquises. A chuva apertou por diversas vezes e eu já não estava tão confortável - odeio ficar com os pés molhados dentro do tênis.

- Olha, já são 10 horas, vou pra escaria, marquei lá com esse meu amigo. Você não quer ir também?

O amigo em questão era um alemão muito viajado, que havia saído de casa há cerca de 40 minutos para nos encontrar.

- Vamos sim. Não sei nem se o meu amigo ainda vem, deve estar cansado do trabalho.

O caminho para a tal escadaria passava por uma pequena ladeira que já havia me chamado a atenção desde a primeira vez que a vi. Também já havia passado por ela, descendo de Santa Tereza, mas desconhecia a tal escadaria. Me surpreendi com uma aconchegante rua boêmia, relativamente escondida da vista dos apressados.

Tomamos mais algumas cervejas enquanto eu descobria que a escadaria recebera simbolicamente o nome de seu decorador. Selaron, um chileno que recebia azulejos de inúmeras partes do mundo e, com eles, assentava cada degrau da imensa escadaria. O trabalho soava incompleto, ao que descobri que o tal chileno ainda vive. Mais ainda, pude vê-lo passar apressado sob a chuva, com alguma tela nas mãos, sem que eu pudesse prestar atenção ao seu desenho - eu teria perdido a imagem do autor da obra se o fizesse.

Enquanto isso eu dialogava com meus botões... como é incomum uma situação como essa em lugares como Maceió. Uma noite sem pretensões e sem expectativas, com grande chance de sair frustrada, resultar num começo de uma boa amizade...

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O X da questão

Peculiaridades de um país continental... não é novidade para ninguém a quantidade quase incomensurável de sotaques, trejeitos, gírias e expressões características de cada região do Brasil. Conviver um pouco com essas múltiplas possibilidades das linguagens é uma experiência no mínimo interessante. Creio que enriquecedora é o mais apropriado. Por outro lado, algumas situações de estranhamento são inevitáveis. Minha visita ao Rio de Janeiro mostrou isso com grande clareza.

Pois bem, descobri que meu irmão já é praticamente um carioca da gema. O carioquês é aquele dialeto que aboliu o S de todas as palavras, exceto as sílabas que iniciam com S, claro. Não que outras culturas nacionais não o façam. Alagoas e, principalmente, Pernambuco fazem o mesmo com o pobre S. Desafortunada letra que foi substituída pelo X. Por sinal, a pronúncia dessa letra, em carioquês, é xixxx - sim, tem mais xis no final do que no começo. Mas no caso dos cariocas, o buraco é mais embaixo. Chega a ser incômodo, soa forçado em muitos casos e, felizmente, não é o caso do meu consaguíneo.

Pior do que isso? Perceber-se em meio a uma espécie de adaptação inconsciente ao modo de falar daquele local. Não que eu tenha adotado o X. Mas alguns aspectos da entonação de certas palavras e expressões me surpreenderam quando saíram de minha própria boca, mesmo que ainda muito tímidas. O engraçado é que isso te torna um expatriado em qualquer lugar que seja. Em Alagoas eu tenho um leve sotaque fluminense, nos estados do sudeste tenho sotaque de alagoano. Adoro a mistura, são 16 anos em terras flumineses e quase 13 em terras caetés, o equilíbrio é quase natural.

Estou muito à vontade com as adaptações, na verdade. Mas sinto não poder fazer muita coisa quanto a isso. Quando é possível perceber, já aconteceu. Tenho até me policiado, não tenho mesmo interesse em assassinar o pobre S. Nada de fix, goxto, excuto, afaxto, mextre... Aos meus 2 ou 3 leitores, façam-me o obséquio de me alertar, caso eu mesmo não o faça!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Como dizia aquele jingle: aqui o sistema é bruto!

Noite boa, dia nem tanto. Vinho sem filtro, na veia. Sabem como é? Felizmente tenho um problema a menos a partir de agora. Eles sempre existiram, sempre existirão. Mas uma coisa eu descobri: pancada não resolve tudo. Só que não é o que pensam minhas anfitriãs... Microondas funciona na pancada, chuveiro idem.

Este último estava com crise sentimental, só ligava para uma pessoa por dia. O problema era um tanto óbvio para mim, mas a causa permanecia desconhecida. Um sem número de tentativas de conserto já haviam sido feitas, pelo que me disseram, mas por curiosos.

Eis que ontem eu já estava ressabiado de tanto tomar banho gelado. Comecei a cogitar a possibilidade de abolir o banho e disse para mim mesmo: ou acaba o banho, ou não vai demorar para que eu tenha uma ereção ao contrário... Ah não! Pra mim chega... desleixo por falta de conhecimento é perdoável. Fiz a boa ação do dia, "consertei" o tal problema do chuveiro.

Como eu sempre digo, nem sempre é 8 ou 80.

Agora me dêem licença que vou ali tomar um banho quente...

Uspeando...

Dia interessante, exceto por ter perdido a manhã dormindo... whatever! Primeira visita à Universidade de São Paulo. Não vou me alongar. Tenho sempre bons sentimentos quando entro em uma universidade e com a USP eles foram particularmente preciosos. Fui bem recebido também e já dei uma volta pela universidade, para além da Escola de Comunicação e Artes. Ah, como são atraentes as bibliotecas uspnianas...

Ao fim, visitei uma possível moradia... nada certo. Na volta pra casa, novas amizades e vinho na veia, sem filtro... postagem às 3 da manhã... com um vinho barato e um cigarro no cinzeiro...

That's it!

Ouvindo... Pitty?! Whatever... a própria bem diz: eu quero ver quem é capaz de fechar os olhos e descansar em paz!

Ao fim, duas fotos para ilustrar o dia...
Entrada da ECA-USP

Vista da varanda do prédio: concreto até o horizonte e um pouco além...

Quartos de hotel

Essa postagem leva esse título propositalmente pelo sentimento que me acompanha pelo menos desde os últimos dias no Rio de Janeiro. Tenho pouco a acrescentar que já não esteja dito, então prefiro não me atrever. Que os sentidos duplos, triplos, subentendidos ou explícitos estejam convosco!

Quartos de Hotel
H. Gessinger

Tô num lugar comum
Onde qualquer um se esconde
Pra fazer a frase feita
E sentir os efeitos colaterais
Tô em lugar nenhum
???onde???
Onde qualquer um se esconde
Pra fazer a frase feita
Contrabando de uma seita oriental
Não tenho estado muito em casa ultimamente
Nem me lembro quanto tempo faz
Aprendi a não olhar pra trás

Eu conto as horas que passam
Eu conto estrelas no céu
Na solidão das noites sem graça
Nos quartos de hotel
?como se chama essa cidade?
?como se chama atenção?
De uma cidade que dorme
Enquanto a gente, infelizmente, não?
Bobeiras da noite, noites inteiras
Pensando bobagens, bebendo besteiras
Sem companhia, sem companheira
Nos quartos de hotel
A cada cena as paredes mudam de cor
No quarto quase escuro
À luz apenas do aparelho televisor
(espelho retrovisor futuro)
A duras penas eu apago a televisão
O quarto fica quase escuro
Iluminado apenas pela letra "h"
Da palavra "hotel"
Escrita em neon

Amanhã numa cidade diferente
Não haverá diferenças no ar
As noites passarão do mesmo jeito
As estrelas estarão no mesmo lugar
?como se chama essa cidade?
?como se chama atenção
De uma cidade que morre
Enquanto a gente, mente que não?
Meias verdades, noites inteiras
Bebendo bobagens, pensando besteiras
Sem entender o que sempre acontece
Nos quartos de hotel
A cada cena as paredes mudam de cor
No quarto quase escuro
À luz apenas do aparelho televisor
(espelho retrovisor futuro)
A duras penas eu apago a televisão
O quarto fica quase escuro
Iluminado apenas pela letra "h"
Da palavra "hotel"
Escrita em neon...
...pra chamar atenção
De quem passa na rua
Contando as horas que passam
Contando estrelas...
...no céu

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Cochilou, o cachimbo caiu...

Tenho que postar essa antes de continuar com as postagens do Rio. Boas impressões de Sampa City. Sempre boas, na verdade. Me sinto meio em casa por esses lados. Ver a cidade do alto é bem peculiar... vidro e concreto até o horizonte e um pouco além, em todas as direções. De baixo o labirinto de asfalto. Mas um labirinto bem orientado, não é difícil andar por aqui. Gostaria o Rio de Janeiro de ser ao menos um pouco parecido.

Dias frios, noites bem frias. Mas nada de chuva. Sono até tarde para me recuperar de uma semana de férias na terra do X. A net emprestada do vizinho segue facilitando a minha vida - se ele soubesse o quanto, ficaria feliz pela boa ação.

Dia tranquilo e de aprendizado. Aprendi que não se deve cochilar num ônibus de uma cidade que você ainda não se habituou. Especialmente se os trajetos são curtos. Fui ao encontro da TV Cultura de São Paulo, onde havia uma mobilização dos trabalhadores. Cheguei atrasado e não consegui registrar nada. Ao menos descobri que a direção da Fundação Padre Anchieta (mais um dos bons moços do senhor José Serra - que só por acaso é candidato à presidência) recebeu o sindicato, mesmo que eu não tenha fé de que vá retroagir na ideia tucana de demitir 1200 dos 1600 funcionários de uma das mais importantes televisões públicas do país.

Mas como eu dizia, trajeto curto + cochilo = acordar sem saber onde está. Descer do ônibus no meio de São Paulo então, não tem preço. Quando finalmente consegui chegar ao metrô (fiz tantas arguições a esse respeito que, se fosse uma matéria de jornal, daria uma reportagem especial de fim de semana) percebi que não só passei do ponto. Passei com força! Mas é assim... ao menos serviu para que eu comprasse o bilhete único do sistema de transporte público paulistano. Também serviu para descobrir o prédio da MTV, bem pertinho da minha residência passa-chuva.

É isso. Achei que a postagem ia ser mais empolgante. Deve ser por falta de vinho...

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Quase uma postagem

Graciliano Ramos escreveu, certa vez, que quem se mete a escrever deveria fazer como as lavadeiras de Alagoas. O escrito é até bem conhecido e embora pareça esdrúxulo, vou me valer da lembrança dele para iniciar essa postagem. Acontece que quem se mete a ter um blog que se propõe a estar sempre atualizado, deveria ter alguns cuidados mínimos. Como ter uma conexão com a internet à disposição, por exemplo.

Para se ter uma ideia, essa postagem está se valendo de algum esperto que não protegeu sua conexão wireless e o blogueiro aqui pegou emprestado. E já que eu posso perder a conexão a qualquer momento, preciso logo dizer que as últimas 8 a 10 postagens não foram feitas por motivos como o que acabo de colocar - entre outras coisas menos graves. Listo abaixo os títulos de cada uma delas, que ainda estão sendo elaboradas. Espero mesmo conseguir desenvolver todas, antes que minha memória se perca.

No fim, para os que não conhecem o texto ao qual me referi no início, deixo o texto do Graciliano. Saudações aos meus dois ou três leitores!

- Três vezes Lapa
- Quartos de hotel
- O bonde da Santa
- Sampa no walkman
- Non sense 1
- O X da questão
- Non sense 2
- Cerveja bem!

P.S.: os posts não estão no que seria a ordem cronológica.

"Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar.
Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."
- Graciliano Ramos

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Samba descendo a serra

Ter pouco tempo para conhecer lugares novos (e grandes) termina por te colocar diante de algumas escolhas. Ou você curte o dia inteiro ou curte só uma pequena parte, para ter espaço de curtir à noite. Tudo bem, a idade já não ajuda muito a ficar dias seguidos dormindo somente duas horas por noite, reconheço essa limitação.

No caso, a pequena parte do dia foi ocupada por uma breve visita à UFRJ (Campus do Fundão). Tentei me inscrever em um seminário e não consegui. Nada demais. A visita foi interessante, especialmente por ter mostrado, uma vez mais, quais as prioridades do investimento em pesquisa de nosso país. O prédio da faculdade de letras, perdido no meio das ciências exatas, é no máximo um pequeno estorvo se comparado com a magnitude do centro de pesquisas da Petrobrás/UFRJ, cujas obras estão em fase de conclusão. Um país de todos, sabe como é aquela ladainha...

A parte da noite foi legal. Primeiro porque tive que apresentar a Lapa ao meu anfitrião na cidade. Segundo porque, por um erro de estratégia, não estávamos preparados para entrar em todas as casas noturnas – só as que trabalham com cartões. A mais legal só aceitava dinheiro vivo e se mexendo. Terminamos num samba. Ao menos um samba de qualidade. Ao menos um de nós gostava mesmo de samba. Ao menos um de nós se divertiu com força a noite.

Eu também me diverti. À minha maneira, no limite do meu estado de espírito. Como eu não passei da terceira caipirinha, não caí no samba. Mas o saldo é positivo – exceto os calos nos pés, a volta para casa depois de ficar uma hora e meia esperando a hora de pegar o ônibus para casa, descobrir que não guardamos dinheiro para a segunda condução e passar mais 40 minutos esperando que alguém acordasse para nos dar carona e ter perdido todo o dia seguinte dormindo. Parte em casa, parte no ônibus de volta para a civilização. Duas horas com a bunda pregada e curtindo o balanço das ruas campo grandenses. Acordei descendo a serra e fazendo um balanço, do qual resulta essa postagem. Encerro com a música que me veio à cabeça.

Boa leitura aos meus 2 ou 3 leitores!

Descendo a serra
Humberto Gessinger

Tô descendo a serra
Cego pela cerração
Salvo pela imagem
Pela imaginação
De uma bailarina no asfalto
Fazendo curvas sobre patins

Tô descendo a serra
Cego pela neblina
Você nem imagina
Como tem curvas esta estrada
Ela parece uma serpente morta
Às portas do paraíso

O inferno ficou para trás
Com as luzes lá em cima
O céu não seria rima
Nem seria solução
Um dia de cão
Um mês de cães danados
Ordem no caos
Olhos nublados
Um cão anda em círculos
Atrás do próprio rabo

Um dia de cão
Um mês de cães danados
Ordem no caos
Olhos cansados
Não há nada de novo
No ovo da serpente

É sempre a mesma stória
(é tão difícil partir)
É sempre a mesma stória
(é impossível ficar)
É sempre mais difícil dizer adeus
Quando não há nada mais pra se dizer

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Dois em um

Tentando colocar a preguiça de escrever de lado... dois dias muito diferentes, mas com uma coisa em comum. Andar feito má notícia. Ontem (segunda-feira) demorei a sair de casa, mas até que aproveitei razoavelmente o passeio. Descobri que ir de um bairro da orla até outro pode demorar bem mais do que eu esperava. Deu até pra cochilar no trajeto entre a Barra da Tijuca e a saída de um túnel (acredito ser o Túnel do Juá, mas vai saber...), uma das vistas mais belas da cidade.

Também descobri que é difícil decidir onde saltar sem ter programado isso previamente. Nessa brincadeira passei direto do Arpoador e só fui descer do outro lado, pouco depois do Forte de Copacabana – que estava fechado, por ser segunda-feira, e não pude visitar. O que me restou foi andar de um Forte ao outro, relativamente impressionado com o visual natural e proporcinalmente indignado com o paredão ininterrupto de prédios à minha esquerda.

Uma caminhada como essa, andando só, te proporciona uma quantidade de pensamentos tão grande que nem se eu tivesse anotado cada um conseguiria lembrar perfeitamente de todos. Os pobres botões que me acompanharam tiveram que ter um tantinho de paciência comigo. Felizmente eles são mais pacientes do que eu. Ao fim da andança o dia já havia ido embora e me deixado com meus botões – ainda eles, solícitos e pacientes. Voltar para casa não era bem o que eu precisava, mas na agonia do dia tudo que eu tinha na mochila era uma camisa e umas anotações. Não haviam me levado a sério sobre sair cedo de casa (6h30) e acabei levantando atrasado – na correria sequer me lembrei que um tenis seria muito bem vindo. Por motivos que vão além de minha vontade, acabei dormindo sem conseguir postar nada, exceto a música que ainda martela minha cabeça – não é só ela que me tem martelado, mas isso é outra história.

A manhã também não seria perdida com isso e, sinceramente, eu já não estava com a mesma disposição mental para fazer qualquer tipo de relato. Como já falei, tenho o grave defeito de não conseguir retomar um pensamento mais bem formulado se algumas horas tiverem transcorrido sem que eu pudesse colocá-lo para fora, falando ou escrevendo.

O mesmo vale para o dia de hoje, que já se foi há tanto tempo que algumas coisas certamente passarão em branco. Resumindo, foi um dia bastante contrastante com o de ontem, sob diversos aspectos. Os que importam, na verdade, dizem respeito ao que vi. Ontem um passeio pela menina dos olhos da elite carioca, mais voltado para as belezas naturais. Hoje, um dia de belezas históricas, também revelou o Rio em suas nuances mais cotidianas. Um passeio pelo Centro é tão ou mais atraente que aquele das “belezas” de que falava. Infelizmente, nem todo mundo consegue enxergar para além dos limites de sua própria ideologia.

De fato seria possível citar cada um dos lugares por que passei, comentando cada um – mesmo sabendo que a maioria deles só foi rapidamente observada. Não adiantaria muito fixar-me sobre o teatro municipal, os arcos da Lapa, o belo prédio do corpo de bombeiros, a praça da República ou o palácio Duque de Caxias. Dessa andança toda, somente dois me tocaram.

Em ordem de chegada, primeiro o Arquivo Público. Além de ser um dos poucos lugares que estavam previamente escolhidos para serem visitados, me reservava a bela surpresa de estar com a exposição Capitais da Bossa Nova. Aproveitei que não tive tempo de prosear com JK em Brasília e tive uma longa conversa com ele, nas duas capitais nacionais de seu governo, que me chegavam em fotos e vídeos da década de 1950.

Antes de adentrar o prédio histórico, duas coisas merecem ser comentadas. Por simples ignorancia, não sabia que a Rádio Mec ficava também ali, ao lado do Arquivo Público. Quando a avistei tive um tipo de frissom, imediatamente acompanhado pelas memórias do pouco que li sobre a antiga Rádio Nacional, apropriada por Getúlio Vargas durante sua ditadura para servir de veículo oficial do seu Estado Novo – não me assusta pensar que tenham batizado o período de Era de Ouro do Rádio. Se houvesse televisão na época, seria certamente a época de ouro desse meio de comunicação, nos moldes do que aconteceu na ditadura militar com a Globo. Ainda arrumo tempo de ler mais sobre isso. O segundo fato a ser lembrado é a cara do segurança do Arquivo Público ao me dirigir a palavra. Não que eu fosse o melhor exemplo de figurino, mas aquele “Pois não!” poderia ser um pouco mais amistoso. Afinal, bermuda e havaianas não são tão incomuns hoje em dia. Mas aquilo me deixou meio ressabiado e acabou me tolhendo. Depois de prosear com o seu Juscelino, acabei por desistir de visitar a Rádio. Não queria ser tão bem recebido novamente em tão pouco tempo. Quem sabe volto lá menos desarranjado...

O segundo lugar que me causou frissom foi a Central do Brasil. Eu não tinha muitas referencias dela, exceto pelo filme homônimo. Achei bem mais organizada do que esperava encontrar. Ao chegar, no entanto, me dei conta de duas coisas: precisava urgentemente almoçar e nenhum telefone público estava funcionando. Um não dependia do outro, claro. Mas saí para resolver as duas coisas. E voltei pra Central. A essa hora eu já tinha cantado Rodo Cotidiano umas 800 mil vezes, mesmo sem lembrar a letra completa. A Central era meu último ponto de visitas do dia e, infelizmente, acabei optando pelo metrô em direção à Pavuna, onde esperava conseguir uma carona. Nem fiz o trajeto mais tradicional partindo da Central em direção a Bangu, nem peguei a carona. Isso ainda faço essa semana, ah se faço!

Hoje vou ser menos dramático, sou deveras incompetente para descrever meu sentimento de um jeito mais apropriado que a música. Aliás, hoje que é ontem. Postagem com um dia de atraso – escrito na terça e postado na quarta-feira. Saudações aos meus 2 ou 3 leitores! O Quiprocó pelo menos tem 14...

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Hoje, só amanhã!

A postagem de hoje não vai rolar. Acabou meu tempo na net e ainda não comecei a escrever. Deixo a letra da música abaixo de lambuja. Ela dá continuidade ao sentimento do post anterior e resume o dia de hoje.

Ando Só
H. Gessinger

ando só
pois só eu sei
pra onde ir
por onde andei
ando só
nem sei por que
não me pergunte
o que eu não sei

pergunte ao pó
desça o porão
siga aquele carro
ou as pegadas que eu deixei
pergunte ao pó
por onde andei
há um mapa dos meus passos
nos pedaços que eu deixei

desate o nó
que te prendeu
a uma pessoa que nunca te mereceu
desate o nó
que nos uniu
num desatino
um desafio

ando só
como um pássaro voando
ando só
como se voasse em bando
ando só
pois só eu sei andar
sem saber até quando
ando só

Dois

Para não dizer que o dia foi completamente em vão, me deparei com duas situações interessantes. A primeira delas foi observar como o reflexo da luminosidade da cidade incidindo nas nuvens fez um belo recorte da montanha à frente da casa. Não é uma bela vista durante o dia. À noite também não, exceto pelo detalhe da luz recortando as montanhas. A propósito, isso me fez lembrar que, por estes lados, onde quer que eu vá, as terei por perto.

Mas como eu dizia, o dia foi bastante morto. Para começar, não ultrapassei muito os limites do que eu mesmo já conhecia dos tempos de garoto, exceto no sentido de me esconder ainda mais. Dá pra imaginar algo assim? A Vila Kennedy já não era algo que eu estava com saudade e dar uma esticadinha em Campo Grande também não me enche os olhos. Almoçar em shopping centers não é o meu forte e perder o resto do dia assistindo televisão ainda menos. Especialmente agora. Mas reconheço que, depois de dormir enquanto meus anfitriões não saíam do zero a zero, percebi que dormir um pouco mais não é de todo mal. Sair à noite para comer fast food genérico pelos preços módicos de Macdonalds e cia só não o foi porque eu estava de convidado.

A parte boa é descobrir que isso aqui deve mesmo descender da Babilônia ou coisa que o valha. Além do visível descaso (em sentido amplo, não só o governamental) espalhado por cada metro quadrado do lugar, parece haver uma resistência ostensiva a qualquer coisa que se assemelhe a uma norma. Carteiras de motorista e capacetes são definitivamente raros de serem vistos.

Vá lá que eu não seja um grande fã de normas, só não acredito mesmo que essa seja uma resistência no sentido de provocar algum tipo de mudança positiva. Ao contrário, podemos chamar de caos necessário. Daquele tipo que serve bem para manter na linha aqueles de quem a mão invisível não precisa – nem mesmo como exército reserva de mão de obra.

Espero conseguir manter-me assim, apesar de não poder compartilhar nada agora, já que não disponho de uma conexão – não aqui em Guandu. Tenho me aproximado das palavras a cada instante. E elas de mim, vindo como uma enxurrada violenta. Enfim, eu, que sou razoavelmente reservado para falar de alguns assuntos, nunca precisei tanto colocá-las pra fora - a propósito, enquanto esperava pelo meu fast food, li uma frase plotada na traseira de um carro, impublicável por este blog, mas que me fez pensar: "longe? não mesmo... bem perto". Mas agora... ando só.

Na foto: vista da varanda, em Guandu. A foto noturna não ficou legal, vai essa mesmo. Botem a imaginação pra funcionar!


P.S.: esse foi escrito ontem à noite. Atrasos na postagem serão sempre pelo mesmo motivo.

No princípio, tudo é início.

Uma boa mensagem de saudação me parece um tanto difícil de ser escrita, mas é proporcionalmente necessária. Nas últimas 24 horas, perdi as contas de quantas possíveis mensagens poderia escrever com esse teor. Algumas muito boas, outras nem tanto. Elas vieram aos montes e esbarraram em minha costumeira incapacidade de colocá-las no “papel” – o que me coloca um questionamento que surgiu simultaneamente ao desejo de abrir este espaço: serei eu capaz de manter o que me proponho? Mas não espero mesmo alimentar a mim ou qualquer um com essas indagações. Muito a propósito, quero uma folga destas.

Pois bem! Já fazia muito tempo que não assistia ao nascer do sol. Hoje ele me veio, em seus tons laranja-avermelhados, entrecortado pelos desenhos de poltronas e asas do avião que sobrevoava o Planalto Central, o que lhe garantiu uma palidez peculiar à coloração. Lembrei que, ao sair, me sensibilizei com os olhos marejados de minha mãe, a quem disse as mesmas palavras que costumo usar quando saio para me divertir à noite: não demoro, ao nascer do sol eu estou de volta. Fiquei pensando se essas palavras não me marcaram mais do que a ela; inconcluso.

Mal tive tempo de rever o Juscelino, o que não deixa de ser bom. Não deixei de fazer a velha saudação “E aí seu JK, tudo bom?”, mas também não esperei pela resposta. Quase me refiz a pergunta de meu pai: porque mesmo eu venho sempre aqui? Com essa eu realmente não estava preocupado – até avistar, no pátio, 5 aeronaves entregues à sorte, duas da VASP e 3 bem maiores, da Transbrasil, ambas extintas por obviamente ter lhes faltado competência para resistir à corrosão do mercado.

Já próximo à cidade dos maravilhados, foi fácil saber que estava em terras familiares. Fechei os olhos na quase insuportável e imensa regularidade do plano alto e acordei, rodeado de morros e montanhas, em variados tamanhos e recobertos de algum tipo de mata (que pode ser a Atlântica, ou não). A Serra do Mar também me saudou lá do alto, quando nos cruzamos. Desembarquei tentando descobrir qual tom estaria me esperando – e descobri não ser o mesmo que deu nome ao aeroporto.

Sob alguns aspectos (os negativos) tenho a impressão de não ter ainda saído de casa, embora esteja tomado por um sentimento pleno de estar em férias – é o mesmo sentimento que eu vinha sentindo ao longo da semana; achei que a ficha não tinha caído, mas me enganei, ela está só esperando a vez dela, já que a ficha das férias tinha assento preferencial. Mas reconhecidamente devo dizer: a primeira impressão não me satisfez. Pode ser em decorrência de alguma memória ou simplesmente resistência gratuita. E isso eu quero pagar pra ver. Tenho uma semana pela frente e uma certeza: não me dou mais do que essa chance de estar enganado.

Pois bem, é isso. Saudações!

P.S.: escrevi esse post ontem à tarde, mas já expliquei o motivo da indisponibilidade na postagem acima.