segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Pior do que tá não fica?!

Ainda que haja uma quantidade monstruosa de comentadores das eleições, senti também a necessidade de adentrar este universo particular. Não me coloco (nem almejo ser de fato) como cientista político, não farei uma análise termo a termo das candidaturas. Tampouco cometerei o absurdo e deliberadamente mal intencionado hábito de reduzir tal acontecimento à "disputa entre duas candidaturas, mais um ou dois que correm por fora", reproduzindo com maestria os anseios ideológicos do pensamento único.

Surpreende-me como, todos os anos em que temos eleições, as pessoas se incomodem com a presença de certas excentricidades entre os candidatos. Aos que têm acompanhado as eleições paulistanas - da qual falarei aqui, mas poderia ser qualquer estado brasileiro - também não é novidade. A grande vedete por aqui é a candidatura do humorista Tiririca, pior do que tá não fica! Ops! Perdão, é que o slogan pega mesmo... Aos que não puderam ainda fazê-lo, recomendo assistir ao vídeo abaixo, para então continuar a leitura.



Não me ocuparei de desqualificar a candidatura do astro do humor, o "Tiririca da televisão", tampouco irei lamentar, como é comum ouvir entre os paulistanos, uma possível (ou provável) vitória sua nas urnas - a frase mais repetida a esse respeito é "pior que ele vai ganhar!". Pensando sobre o que faz com que figuras como Frank Aguiar, Aguinaldo Timóteo, Maguila, Tiririca entre outros, se candidatem e vençam o pleito eleitoral, quero registrar aqui uma análise sumária do que representam tais candidaturas, tidas como bizarras, estúpidas, engraçadas, que denigrem a política brasileira, entre tantas qualificações possíveis de serem lidas.

Antes de mais nada, é preciso ter em mente que: 1) vivemos uma sociedade de classes, a despeito do desejo da classe dominante ou de seus defensores; 2) o processo eleitoral para o Estado burguês não permite que se vá de encontro, deliberadamente, ao modus operandi da eleição burguesa e, por fim; 3) em uma tal sociedade de classe, a classe dominante não pode suprimir em definitivo a classe dominada, que lhe é antagônica e, por isso, sempre encontra formas de resistência - bem como de expressar essa resistência.

A vitória de tais candidaturas, portanto, representa o avesso da eleição burguesa. Uma evidência da contradição e da resistência de classe. Na falta de um projeto com o qual a classe dominada se identifique (não por falta de existir um projeto dessa natureza, mas principalmente porque não consegue "ler" o projeto que existe - o que não quer dizer que o problema seja das pessoas, pode ser pela complexidade do próprio projeto e, principalmente, pelo estágio da conjuntura sócio-histórica em que esse "eleitorado" se encontra), ela demonstra assim sua forma de resistência e acaba por eleger um ícone midiático que não representa, aparentemente, projeto nenhum. Quem é mesmo que vai votar no Tiririca? Certamente não são os mesmos que o mantém como produto da indústria cultural, estes têm interesses e candidaturas próprias... Daí que podemos retomar e reduzir essa análise ao slogan de campanha do humorista. Pior do que está, não fica!

Ainda assim, para que fique claro, retraçar a resistência da classe dominada a partir da eleição de tais excentricidades não significa, em momento algum, que tais candidaturas representem os anseios desta classe. Antes e essencialmente elas representam o jogo eleitoral burguês, com suas engrenagens típicas para fazer dominante um projeto de classe, não uma persona qualquer. Mas insisto: são a expressão mais sobrelevada dessa resistência.

2 comentários:

  1. Ciência política topada! Nossa, ainda me surpreendo! ^^ Parabéns pela análise?! deverias buscar outros meios de divulgação desses textos heim! Muito bom!


    =**

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  2. "Pior que tá, não fica"...

    Boa análise sobre os votos para essas "figuras".

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